28 de dezembro de 2011

Afinal, o que pensar do consórcio Belo Monte

Em meios a tantos problemas que a construção da UHE de Belo Monte vem sofrendo com organizações ambientalistas nacionais  e internacionais, indígenas, a sociedade em geral, o clero, o Ministério Público Federal e tantos outros, era de se supor que o consórcio Belo Monte, formado por empresas de renome como  Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Vale,  Mendes Energia, Malucelli, Setenco, dentre outras, fosse fazer de um tudo para conviver harmoniosamente na parceria público/privado. Afinal, o projeto prevê investimentos maciços nas áreas social e ambiental a fim de mitigar o impacto que uma obra dessa natureza causa em toda a região. E no entanto, não é isso que se vê, infelizmente.
Mas afinal, o que  é esse tal consórcio e porque de tantos poderes? Quando estive  secretário estadual de transportes, no governo Ana Júlia, algumas das obras que contratamos foi através de consórcio. Duas ou mais empresas se unem para executar determinada obra disponibilizando seus equipamentos, máquinas, pessoal, material e todo necessário para os serviços.
Maquete da barragem da Usina Hidrelétrica de Belo Monte
No caso de Belo Monte, me parece que essas  empresas, que detém altíssimo capital e têm interesses e negócios em todo país, se sintam desobrigadas de honrar compromissos assumidos com o governo do estado como a aquisição de máquinas e veículos diretamente no Pará e até com a própria Norte Engenharia, responsável pela obra que não demonstra imposição frente a essas empresas.
Nesse jogo de braços entre o público e o privado, sobra espaço para o acirramento dos ânimos da sociedade civil contra a hidrelétrica e a imprensa pressiona o estado a dar uma resposta à altura.Esse, por sua vez, aperta o cerco utilizando seus mecanismos fiscais e financeiros e nessa briga todos perdem. A construção de UHE de Tucuruí já nos deixou um passivo social imenso que até hoje lutamos para superar. Dessa vez, parece que muitas medidas foram tomadas para que o impacto na sociedade e meio-ambiente sejam menores. Há que se ter responsabilidade moral e social e não visar apenas o lucro de bilhões de reais que a futura usina irá proporcionar. 
Sabemos da importância da UHE Belo Monte para o Brasil, a Amazônia e o Pará. Essa energia irá se interligar ao sistema elétrico nacional e contribuir para energizar nossas regiões mais longínquas como a Calha Norte e o Marajó.A verticalização mineral dentro do Estado vai utilizar  muito essa energia. O Pará quer se desenvolver e depende de Belo Monte para que isso ocorra.
Mas a que custo? Ambiental, social, econômico. Assistimos Altamira e cidades sob influência do projeto sendo tomadas por levas de migrantes, gente de todos os níveis,  de técnico especializado até retirantes sem estudo ou conhecimento algum. Todos com o propósito de ganhar dinheiro, criar suas famílias, participar dessa monumental obra que certamente fará história. Como criar infra-instrutora para toda essa gente? Escolas, hospitais, bairros com moradias, luz e água, comércio, serviços. Somente a parceria público/privada, volto a insistir, pode trazer soluções para esse novo e importante momento por que  passa o Xingu.
Considero que o momento é de diálogo, não de retaliações. Se houve falhas, buscar superá-las. Concordo com o Estado em esticar a corda e não deixar essas empresas “deitar e rolar”. Mas é importante não deixar que a soberba impeça o diálogo e lembrar que nas brigas de titãs geralmente  é o mais fraco quem sofre as conseqüências.

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